
Geologia é o estudo austero do esqueleto da paisagem
Evidências glaciares na Serra da Estrela
16-05-2013 20:52As glaciações são períodos de frio intenso, dentro de uma era do gelo, quando a temperatura média da Terra baixa, provocando o aumento dos glaciares nos pólos e em zonas montanhosas, próximas às regiões de neve que nunca derrete. Estes fenômenos climáticos ocorrem ao longo da história da Terra, quando as temperaturas baixam bruscamente e a quantidade de neve que cai é maior do que a que derrete, permitindo a sua acumulaçao. Na Serra da Estrela existem numerosas evidências de uma era glaciária que abrangeu Portugal, ou seja, estruturas geomorfológicas que têm origem glaciária.
Os glaciares são massas de gelo que se movimentam sob o efeito da gravidade. Existem três principais tipos de glaciares:
Glaciar de vale (alpino): formam-se em regiões montanhosas e ocupam vales. Podem atingir centenas de metros de espessura. Próximo do equador, em altitudes mais baixas, ocupam as partes mais altas dos vales. Em regiões mais frias, próximo dos polos, formam-se nas montanhas e alastram-se por regiões mais planas.
Glaciar Piedmont: resultam dos glaciares alpinos que quando abandonam os vales deixam de estar limitados e espalham-se por amplas áreas. Por vezes também resultam da fusão de vários glaciares alpinos. São os glaciares mais raros e podem atingir dezenas de milhares de quilómetros.
Glaciar continental: são os glaciares que ocupam as maiores áreas e deslocam-se muito lentamente não sendo bem percetível o seu movimento.
A 1500 m de altitude podemos visitar o Covão do Vidual. Aqui podemos observar vários aspetos glaciários relevantes. O próprio covão e a lagoa que nele podemos observar são resultado da erosão provocada pelo gelo de um circo glaciar, formando uma depressão. Estes provavelmente encontravam-se á cabeceira de um vale glaciário, sendo resultado da acumulação de mantos de neve. Quando a zona deprimida se “enche” com as águas da chuva, do degelo da neve ou de lençóis de água, forma uma lagoa. Quando há acumulação de sedimentos forma um covão.
Lagoa do Vidual-Covão do Vidual
As rochas estriadas e a rochas aborregadas são também vetígios de um glaciar. As primeiras revelam a ação erosiva do glaciar, no qual o arrastamento do material rochoso transportado pelo glaciar forma estrias. A direçao destas estrias mostra-nos a direçao em que o glaciar se deslocava, de Este para Oeste. As rochas aborregadas são polidas no lado menos inclinado e fragmentadas na secção mais inclinada, onde a rocha era mais frágil. Estas formam-se pela acção abrasiva do glaciar, que é capaz de polir as rochas.
Aos 1590 m de altitude visitamos a Nave de Santo António.
Neste local podemos observar seis formações graníticas diferentes que nos dão indícios da existência de um glaciar naquele sítio.
O Cântaro Magro, o Gordo e o Raso são formações constituídas por granitos menos fraturados e por isso mais resistentes, o que permitiu que estas permanecem no mesmo local atualmente. Outro fator que possibilitou a existência destas foi a existência de um filão de dolerito que na era glaciar estava mais exposto aos agentes erosivos, sofrendo este a erosão provocada pelo glaciar, “protegendo” os cântaros.
Nave de Santo António: Cântaros Raso, Magro e Gordo
Outra das formações é o Poio do Judeu. Este é um bloco errático que, pela sua definição, é um bloco rochoso que teria sido transportado pelo glaciar e pode ter composição litológica diferente do substrato. A sua localização explica-se pelo facto de ter sido naquele local que provavelmente o glaciar começou a perder força. É a sua grandeza que o faz relevante nesta paisagem.
Bloco errático-Poio do Judeu
Por último podemos encontrar dois tipos de depósitos glaciários. O Espinhaço de Cão é uma moreia mediana que possivelmente se formou quando duas moreias laterias de dois glaciares alpinos diferentes se fundiram, sendo assim constituída pelos depósitos de confluência de dois glaciares.
Moreia mediana-Espinhaço de Cão
O conhecido vale do rio Zêzere é também todo ele uma grande evidência da presença de glaciares na Serra da Estrela, por ter forma em "U". Neste caso, o glaciar erodiu a base e as paredes abruptas do vale.
Vale do rio Zêzere
O vale suspenso da Candeeira ficou descoberto depois de o glaciar recuar. A base destes vales fica a uma cota superior ao vale principal é revela a existência de afluentes dos glaciares principais.
Vale suspenso da Candeeira
Por fim, a 775 m de altitude, nas Caldas de Manteigas, encontramos uma moreia terminal. Esta marca o maior avanço do glaciar, antes de ele recuar. Marca o limite máximo da expansão do glaciar.
Moreia terminal-Caldas de Manteigas
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